CAMUS É QUE TINHA RAZÃO!
A proposição lógica de ideias deve seguir uma
sequência que não seja impulsiva, numa construção racional de itens, pelos
quais se está disposto a pelejar.
Depois das besteiras que ironizei, na
postagem anterior (10 dicas para parecer um intelectual - republicada), faço questão de apresentar alguns tópicos,
elaborados na maior frieza de pensamentos.
Para alguns não adiantará em quase nada, pois
como refere Mário de Andrade, no Prefácio
Interessantíssimo, um dos marcos do modernismo brasileiro, na obra Pauliceia Desvairada:
Está fundado o
Desvairismo.
Este prefácio, apesar
de interessante, inútil.
Alguns dados. Nem
todos. Sem conclusões. Para quem me
aceita são inúteis ambos. Os curiosos terão o prazer em descobrir minhas
conclusões, confrontando obra e dados. Para
quem me rejeita trabalho perdido explicar o que, antes de ler, já não aceitou.
Portanto, vamos por partes – ou seja –
apresento a minha linha de raciocínio por itens e subitens, mesmo que antecipadamente não seja aceito, por quem me rejeita:
1.
A
teoria de que um escritor, obrigatoriamente, deve estar FORMADO na Língua Portuguesa é a maior besteira que alguém pode
escrever. Essa premissa é uma “falácia”, que beira a imbecilidade.
Vamos provar isso pela própria Literatura Brasileira.
a.
A
aprendizagem ocorre por toda a vida, ou seja, sempre estaremos aprendendo e,
algumas vezes, desaprendendo. O
Graciliano Ramos de 40 anos não era igual ao mesmo autor, quando esse tinha 20
anos de idade. Pequenos erros de digitação e de gramática são normais, para os
mais renomados artistas.
2.
Agora,
imaginem se Rachel de Queiroz, que
nasceu em 1910 e lançou a sua obra-prima em 1930, sob o título “O Quinze” (que referia sobre a seca de
1915), esperasse um pouco mais e não lançasse sua obra aos vinte anos, somente
pelo fato de cometer erros de português. O que aconteceria com Álvares de Azevedo (morto aos 20 anos);
com a epifania de Clarice Lispector,
que publicou, em 1943, o seu primeiro romance “Perto de um Coração Selvagem”, sendo que ela tinha somente 19
anos! Errar gramaticalmente é usual, o que não é a mesma coisa que “errar
grosseiramente”, sinal de falta do conhecimento básico ou banalização da língua-mater.
O escritor, bom ou ruim, tem que se preocupar com o conteúdo e, obviamente, não esquecer a forma (melhor correção
possível).
b.
Passemos,
então, para o inigualável Machado de
Assis. Acabo de ler o lindo “Quincas
Borba”, mas o seu melhor livro (sem dúvida) é Memórias Póstumas de Brás Cubas. Saiba, caro leitor, que Machado
de Assis cometeu diversos erros de português, o que já é fato, na sua
biografia, como atestam diversas teses de literatura. Ele chegou a tomar aulas
de caligrafia e de português, quando era adulto, para melhorar a sua escrita (naquela
época era tudo manuscrito).
c.
Alguns
poucos escritores santiaguenses, talvez um único, ainda estão no início do
século passado, antes da década de 20. Um passadista,
bem mais atrasado que os passadistas. Vamos, agora, para o MODERNISMO
BRASILEIRO, defender essa afirmação:
- a 1ª Geração
Modernista (1922-1930) foi radical ao combater os parnasianos (que adoravam
a métrica e a rima) e estabeleceu conquistas, tais como: o verso livre, mistura
de prosa e poesia, blague (poema piada), a utilização de linguagem coloquial.
Veja esse poema de Oswald de Andrade:
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de Andrade
Existe a ironia no “Erro
de português”. Qual? A ideia de dominação cultural, tão combatida pela antropofagia (movimento do mesmo autor) onde
os europeus introduziram a sua cultura, goela abaixo, nos povos indígenas – e a
sua ironia no verso, com erro gramatical “O
índio tinha despido”, que estaria mais adequado com o “O índio teria despido”.
- a 2ª Geração
Modernista (1930-1945) foi mais amena. Dela destaco o “poeta maior” da literatura brasileira,
Carlos Drummond de Andrade, que chocou o público com o texto “No meio do Caminho”, colocado algumas postagens atrás, que modifiquei em
homenagem intencional. Carlos Drummond foi fantástico, ao defender que o autor
teria a liberdade de escolha ao produzir o seu texto, ou seja, da forma mais
similar ao clássico (parnasiano), ou de um modo mais livre (moderno).
- Apesar da 3ª
Geração Modernista (1945-1960) se opor à primeira, quero dizer, retornando
ao culto da escrita mais elaborada (João
Cabral de Melo Neto, por exemplo), a Literatura Brasileira nunca mais foi a
mesma, após a Semana de Arte Moderna.
- Portanto, temos que pesquisar mais sobre a evolução de nossa
literatura e, até mesmo, de teorias mais contemporâneas, como as variações
linguísticas.
e. Sobre as variações linguísticas, cabe
destacar que uma das diversas modificações de linguagem está relacionada com a plateia e com a forma de se irá
apresentar os textos para esse público. Obviamente, o coloquial pode ser aplicado ao blog, pois ele é uma interface que não
possui a seriedade de um livro. Por isso, meu leitor mais assíduo, não faço tantas revisões no meu blog (ah,
detalhe, o correto é blogue. Quem
defende tanto o “correto”, não pode cometer qualquer erro). Num BLOG não é
necessário se fazer tantas correções, visto que as redes sociais são interfaces
que não sugerem isso.
f. Além disso, recebi certas “críticas” (é
verdade!) por estar, algumas vezes, dificultando a minha escrita e, até mesmo,
a fala. Alguns dos meus poucos leitores já acusaram que eu devo cuidar, para
não cair no péssimo defeito de um certo colunista santiaguense, que escreve palavras que nem
ele mesmo entende. Apesar das minhas limitações em Língua Portuguesa, confesso,
sempre busco aperfeiçoar o hábito da redação. Fiz uma faculdade de Letras,
estou sempre consultando o dicionário, sou um leitor assíduo etc. Aprender a “última flor do Lácio” (Olavo Bilac) não é nada fácil...
Contudo, tentamos!
3.
Quem
corrige erros de português, caro leitor, não é o escritor. Existe
um profissional em TODAS as editoras (ou mais de um!), que se preocupa em corrigir
pequenas falhas. Aliás, ele recebe dinheiro para isso. Aqui em Santiago, temos
o Froilam de Oliveira, o qual ressalto a maior qualidade: CORRETOR ORTOGRÁFICO.
Sugiro para ele, quando se aposentar, que invista o seu precioso tempo para se
tornar um etimólogo, por profissão.
4.
Gostaria,
nesse momento, de reforçar o convite,
enviado por e-mail e não respondido pelo Froilam, para que participe do I Salão de Debates Culturais. Vamos lá,
Froilam? Vamos debater ideias? (Ainda há tempo, nós divulgaremos a sua inclusão. Achei que tivesse "denegado" o convite...)
5.
Por
fim, Sartre tentou aproximar o existencialismo do comunismo, buscando justificar a violência “pelo mal menor”, ou seja, as necessidades do estado
poderiam, em determinados momentos, justificar a violência. A liberdade de escolha
estava "limitada" pelos próprios limites do homem. Contudo, Sartre ficou chocado quando soube
dos campos de concentração russos, os quais o filósofo não conseguiu justificar (milhares de mortos). Realmente, aproximo-me mais do "ex-amigo de
Sartre", o escritor Albert Camus, que era não era favorável a qualquer tipo de
violência (“O Homem Revoltado”), o que mais se aproxima de Paulo Freire, um dos teóricos que sigo.
Sugiro a leitura da seguinte obra, uma das minhas, de cabeceira:
Ah!
O pior defeito de um “(pseudo)intelectual” é achar que, no mundo, somente ele realiza
leituras. Faça-me o favor!
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