Conto
lunático – Parte I
Oscar caminhava
apressado, pelas ruas de Santiago. A calça jeans,
que lhe foi doada, estava apertada e causava assaduras na virilha. Próximo
a estátua do Aureliano, na Rua dos Poetas, sentiu-se tonto. A tontura era uma consequência
do tempo que estava sem comer (quase três dias). Sentou-se no meio-fio. Tal
atitude chamou a atenção de uma mulher, do outro lado da rua. De longe, ela
percebera que o rapaz era jovem, talvez um 15 ou 16 anos. Lá, na borda da
calçada, Oscar permanecia desligado, apenas se preocupando com as alucinações
que vinha tendo: enxergava escritores falecidos. Via-os de todas as formas e
com os variados rostos. Talvez, pensou, fosse pelo fato dele gostar de ler.
Achava, na verdade, que era decorrência da falta de alimentos. Qual fosse o
motivo, para os seus olhos, Caio Fernando Abreu estava em pé, ao seu lado, junto
da pastelaria.
- Levante-se daí,
menino! Você não está doente, como eu fiquei. – Disse Caio F.
- Você diz isso, pois
não precisa comer. – Respondeu Oscar.
Caio sorriu. Balançou
as abas do macacão branco que usava. Sentou-se ao lado do rapaz.
- A comida da alma é
o sonho. A bebida do espírito é a fantasia. Os seus olhos enxergam o
impossível; mas, saiba, não existe o impraticável.
- Você, Aureliano
Pinto, Cecília Meireles, Ramiro Barcelos, Machado de Assis, José de Alencar, Clarice
Lispector, Oswald Andrade, Túlio Piva... Vocês adoram filosofar! Só que eu
tenho 15 anos! Será que estou louco?
Da outra calçada, a mulher tentava entender o
adolescente que falava sozinho. (continua)
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